Há poucos anos os brasileiros assistiram estarrecidos cenas de desespero de pais e autoridades na Argentina. 195 jovens morreram queimados dentro da Boate Cromanon, em Buenos Aires.
Na base do problema vigorava a mesquinha lógica de que o jovem morre queimado, mas não sai sem pagar. As portas foram fechadas com cadeados.
Isso já seria motivo para que as autoridades tomassem medidas em terras tupiniquins. Veio a tragédia de Santa Maria.
Em maio de 1964, 328 peruanos morreram e mais de 500 ficaram feridos no Estádio Nacional de Lima, Peru. A torcida entrou em comoção após o árbitro uruguaio haver anulado o gol que levaria a seleção peruana às olimpíadas de Tóquio de 1964.
Na base do problema, a mesquinha lógica de que cada espaço de um estádio deve ser ocupado. O torcedor não tem para onde ir, apenas de encontro à sua própria morte.
A lógica perversa nisso tudo é a de que as autoridades são as primeiras a lutar para que as normas de segurança não sejam seguidas. O show deve continuar.
Pouco menos de um ano depois da tragédia de Cromanon, uma evidência de que as Autoridades fazem de tudo para que os eventos ocorram. As normas de segurança são apenas obstáculos a serem maquiados.
Em 4 de setembro de 2005, o Brasil enfrentaria o Chile no Mané Garrincha. Dois meses antes, o Corpo de Bombeiro informou que o Estádio não estava em condições. Alertou para uma série de problemas.
Em 17 de agosto de 2005, a Defesa Civil informou que o Estádio Mané Garrincha confirmou possuía diversos problemas que colocavam em risco a segurança do torcedor: saídas de emergências inadequadas, guarda-corpos colocando em risco a vida dos torcedores, acesso aos locais de câmeras oferecendo risco de quedas, cabos de energias soltos ao lado da arquibancada. A defesa civil questionava até mesmo a segurança estrutural do Estádio. Comprovou os perigos com fotografias.
Interessante que no dia seguinte, 18.08.2005, o Corpo de Bombeiros apresentou parecer técnico dizendo que tudo isso já havia sido sanado, como num passe de mágica. A visita dos bombeiros foi realizada com a presença do vice-presidente da CBF, Weber Magalhães.
Em 26 de agosto, o Ministério Público fez a sua própria vistoria no Estádio. Confirmou os problemas apontados pela Defesa Civil e apontou outros tantos.
Em 31 de agosto de 2005, o Corpo de Bombeiros identificou que havia sido construída uma estrutura metálica sem anotação de responsabilidade técnica.
As autoridades queriam. A Justiça garantiu a realização da partida e o jogo foi realizado em 4 de setembro de 2005. O Brasil ganhou por 5 x 0, para mais de 40.000 espectadores, com todas as vias de circulação ocupadas.
Não é preciso dar errado sempre. Para alguns, as tragédias são eternas.